A pesca, amadora ou  profissional, sendo realizada no ambiente marinho, exigirá do pescador  conhecimentos oceanográficos, como a geografia submarina, correntes e  marés do local da pesca, e biológicos, como os hábitos, habitat e  comportamento dos animais marinhos que o mesmo pretende pescar. Esta  matéria tem o propósito de fornecer alguns breves conhecimentos sobre  oceanografia, biologia marinha e pesca, de modo a dar uma melhor noção e  entendimento sobre o ambiente marinho, sua biologia e sua geografia.
 -Oceanografia:
A massa de água dos oceanos, na qual todas as criaturas  marinhas vivem, pode ser dividida em zonas distintas, onde as formas de  vida mudam quase que radicalmente. O sistema de zoneamento ocorre tanto  no sentido horizontal como no vertical, e se sobrepõem em alguns pontos.  No zoneamento horizontal, que vai da costa para o mar aberto, a  distribuição da fauna e da flora depende essencialmente da temperatura  da água e da quantidade de alimento disponível. Quanto mais nos  afastamos da costa, que é a verdadeira fonte de nutrientes, menos comida  estará disponível para a manutenção da vida.
 
 O meio dos oceanos pode ser descrito como um “deserto biológico”. No  zoneamento vertical, que vai da superfície da água até o fundo do  oceano, a distribuição biológica depende fundamentalmente da luz do sol.  Sua penetração pode chegar até 100 metros de profundidade no máximo,  dependendo da claridade e transparência da água, que, por sua vez, é  afetada pela quantidade de substâncias minerais e orgânicas dissolvidas,  bem como pelo plancton e outras partículas suspensas. Assim, os oceanos  podem ser subdivididos em três principais zonas:
 Zona Nerítica: faixa do oceano situada  acima da plataforma continental, entre a linha de maré alta e a  profundidade média de 200 metros. É a região mais próxima da costa, a  zona com maior quantidade e variedade de vida. É habitada pela maioria  dos peixes que conhecemos, aqueles mais importantes para a pesca  comercial e esportiva. A zona nerítica, que está totalmente dentro das  águas territoriais brasileiras, pode, ainda, ser subdividida em duas  regiões: a Zona Litorânea, entre as linhas de maré alta  e baixa, e a Zona Costeira, da linha de maré baixa  para fora.
 Zona Pelágica: faixa do oceano situada acima da  planície abissal, entre as profundidades de 0 e 200 metros. É a região  mais afastada da costa e os peixes que lá vivem, chamados de oceânicos,  são importantes para a pesca comercial e oceânica. A zona pelágica  inclui parte das águas territoriais e todas as águas internacionais.
 Zona Abissal: faixa do oceano situada  justamente abaixo da zona pelágica e imediatamente acima da planície  abissal, entre as profundidades médias de 200 e 5.000 metros. Os peixes  que vivem nessas grandes profundidades, chamados de peixes abissais, têm  pouca ou nenhuma importância para a pesca.
 -Biologia Marinha:
O formato do corpo dos peixes e dos outros seres marinhos é  extremamente variável e possui uma intíma relação com seus habitats  (locais onde vivem), hábitos, modo de natação e comportamento geral. Em  função disso, os peixes e os outros seres marinhos podem ser divididos  em três grupos básicos, descritos a seguir:
 
 Pelágicos: peixes que nadam continuamente  na faixa próximo da superfície da água, não possuindo um local  específico de moradia. São normalmente fusiformes, migratórios e grandes  nadadores. A maioria vive mais afastado da costa, em mar aberto. Muitos  não possuem a bexiga natatória. A coloração do corpo costuma ser  brilhante com tons azulados ou esverdeados no dorso e flancos e branca  no ventre.
 Exemplos: dourados, pampos, marlins, enxadas, algumas raias e  a maioria dos cações.
 Nectônicos: peixes que nadam ativamente,  porém mantêm uma relação com o substrato marinho, onde alguns fazem sua  moradia (toca). São normalmente comprimidos lateralmente e vivem nas  águas costeiras. A coloração de seu corpo, que varia muito, usualmente  apresenta pintas, manchas ou listras claras ou escuras com um fundo  contrastante mais escuro ou mais claro. Alguns possuem um bom mimetismo  com fundo onde vivem.
 Exemplos: meros, salemas, budiões, ciobas, robalos e  pescadas.
 Bentônicos: peixes que habitam e dependem  do fundo, em uma extreita relação com o substrato marinho. Não costumam  ser bons nadadores. Alguns são comprimidos dorso-ventralmente. A  coloração de seu corpo tende a ser escura no dorso e clara no ventre. A  maioria apresenta  excelente mimetismo com o  fundo e alguns são peçonhentos. Exemplo: bagres, linguados, trilhas,  mangangás, alguns cações e a maioria das raias.
 -Pesca:
 Na pesca são usadas várias terminologias para designar o local onde  se pesca, os objetivos da pesca ou mesmo qual o tipo de pesca. No  entanto, a maioria das pessoas desconhecem ou confundem estas  terminologias. Assim, é importante esclarecer e definir algumas das mais  importantes.
 
  A pesca pode ser dividida basicamente em duas categorias:
 Pesca Interior: realizada em água doce,  como os rios, lagos e represas. Neste caso, não há muito o que se  definir, já que a denominação do local é obvia e a esmagadora maioria  dos pescadores é amador e esportivo.
 Pesca Marítima: realizada em água salgada  ou salobra. Com relação a sua natureza, a pesca marítima pode ainda ser  subdividida em dois grupos:
 A. Relativo ao local onde ocorre a pesca: 
 1. Pesca Litorânea:  realizada nos locais junto à costa, ou na zona litorânea, como as  praias, costões, restingas, estuários e lagoas e canais de água salobra.
 2. Pesca Costeira:  realizada nos locais não muito afastados da costa, ou na zona costeira,  dentro dos limites da zona nerítica. Normalmente é realizada com o uso  de embarcação, ao largo das praias e costões e ilhas costeiras.
 3. Pesca de Alto-mar: realizada nos locais  mais afastados da costa, com o uso de embarcação, nas águas oceânicas,  ou seja, nos limites da zona pelágica
 B. Relativo ao objetivo da pesca: 
 1. Pesca Comercial: tem o propósito  específico da venda ou industrialização do pescado. Pode ser subdividida  em duas modalidades:
 1.1. Pesca Empresarial: é a pesca costeira  ou de alto-mar realizada por empresas do ramo, com embarcação própria.  Os peixes são capturados principalmente com o uso de rede de cerco, rede  de arrasto, espinhél e linha de fundo.
 1.2. Pesca Artesanal: é a pesca litorânea  ou costeira realizada por pescadores profissionais embarcados ou não. Os  peixes são capturados principalmente com rede de espera, rede de  arrastão de praia, espinhél, linha de fundo, tarrafas e vários tipos de  armadilha. A pesca artesanal pode, ainda, ser dividida em dois tipos:
 1.2.1. Colonizada: realizada por pescadores  organizados em colônias ou cooperativas de pesca.
 1.2.2. Não-colonizada: realizada por  pescadores autônomos.
 2. Pesca Amadora: é a pesca litorânea ou  costeira realizada por pescadores amadores com o propósito básico de  consumo pelo próprio pescador ou para a pequena e eventual venda aos  vizinhos e amigos. Os peixes são capturados principalmente com tarrafa,  linha de mão e vara de pesca.
 3. Pesca Esportiva: é a pesca praticada com  o intuito de lazer e para o consumo do próprio pescador. A pesca  esportiva pode ser dividida em  três tipos básicos:
 3.1. Pesca Tradicional: pode ser litorânea  ou costeira. Os peixes são capturados com vara e molinete,  principalmente nas praias e costões.
 3.2. Pesca Submarina: pode ser litorânea ou  costeira. Os peixes são capturados com o uso de arpão lançado por  arbaletes ou espingardas de pressão, principalmente ao largo das praias e  costões e nas ilhas costeiras.
 3.3. Pesca Oceânica: é  exclusivamente de alto-mar. Os  peixes são capturados com equipamentos sofisticados __ lanchas  oceânicas (tipo “sportfishermen”) para fazer o currico com vara,  molinete e isca artificial.
 Texto de Marcelo Szpilman - Biólogo Marinho
 
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